Quando Os Olhos Cinzas Caem Sobre Mim

Quando os olhos cinzas caem sobre mim, sei que ele está por perto, o mapa enrolado sobre a mesa da sala de jantar e o passaporte guardado na gaveta ao lado da cama. A jaqueta preta de couro pendurada na porta do armário, a roupa separada para a lavanderia e a mala vazia encostada num canto dão vida a um apartamento que volta a ter o nome de lar. Quando os olhos cinzas caem sobre mim, a manhã transpassa a cortina do quarto, e desliza o sol que nos acorda. A cozinha ganha perfume de pizza para o café da manhã, tem o cantarolar dele ao abrir a geladeira, a gaveta de talheres faz a percussão graciosa da presença do dono daquele lugar. A prancha de surf, sua majestade absoluta, volta a morar na parede do corredor, logo ao lado da porta da casa, esperando pra sair abraçada por aquele que não vive sem ela. O mar chama o nome dele dobrando as ondas, e de tanta saudade que sente, só falta vir busca-lo em casa antes mesmo de o sol nascer. Quando os olhos cinzas caem sobre mim, a felicidade dança ao meu redor e eu, abusada, estendo as mãos para segurar a eternidade, pois amar é se achar eterno, é ignorar a única certeza da existência humana. Quando os olhos cinzas caem sobre mim, ganho dias e noites em solstício. Seu vento solar me faz escrever palavras no céu com as luzes que nascem em mim, aurora boreal na noite de dois apaixonados: I'm not going anywhere, baby, without you...

Share this: