Eu, na volta do banheiro numa madrugada nossa, encostei na porta do quarto só para assistir você dormir. Num pedido com jeito de prece, eu desejo que você esteja tendo sonhos bons, pois o dia havia sido cansativo e os problemas ainda estariam à sua espera quando o amanhecer chegasse. Sonhos bons lhe darão a força necessária para galgar mais um degrau nos seus planos, por isso repeti baixinho o pedido: que seja um sonho bom...
A noite sempre traz a sua exaustão e é desse jeito que eu te recebo, querendo ser, ao mesmo tempo, o fogo pra te fazer brilhar e leito pro seu corpo descansar. Você, que tem a estranha capacidade de me tocar com o olhar, de repente me alcança com os olhos fechados também. Parada ali, eu perco minutos de sono, gravando na minha memória mais um capítulo dessa louca história de nós dois, enquanto você dormia.
O quarto guarda as nossas conversas, palavras ditas que tecem um dossel de carinho a cobrir nossos corpos encaixados. No céu branco do teto, reluzem as estrelas que inventamos. Pelo chão, estão roupas e sapatos, objetos-empecilhos de uma saudade que não quer mais esperar. Enquanto você dormia, eu tento esticar as horas e atrasar a manhã para que o agora não acabe no beijo à porta do elevador.
Há tanto de ti por descobrir ainda - curvas e estradas que me contarão quem você é, indicações não-verbais do menino que você foi e do homem que você se transformou. Enquanto você dormia, eu decoro o traçado de planícies da sua pele pra poder encontrar sempre o caminho de volta para a cama.
