Acesso Proibido

       As paredes não deveriam propagar quaisquer sons - nenhum pulso energético. Mas, a realidade não é essa. Ainda há frases ditas, risos, sussurros e promessas que atravessam tais camadas de isolamento intencional com a facilidade com que se troca de calçada.

 
              Não deveria acontecer. Não serve de nada. Não ajuda em nada. Deveria existir somente um deserto, uma vastidão de coisa alguma, completa ausência de matéria. Vácuo. E muito silêncio. Nenhum rastro, cheiro ou impressão.
 
           Eu não quis decorar a maneira como você acorda... Mentira. Eu quis. E quis despudoradamente carregar você em frames na minha memória, por isso acordava sempre antes, apoiava a cabeça sonolenta num dos braços e aguardava o momento em que seu olhar me buscaria entre os lençóis. Ficava pensando em qual de nós sorriria primeiro e ofereceria o peito para o aconchego do outro.
 
            Não deveriam existir registros, nenhuma lembrança, nem vestígios, pegadas ou digitais. Assim eu poderia, num esforço que causaria rachaduras nas paredes, negar a sua existência, nomearia o lugar no qual você habita em mim como Área 51 e manteria a todos afastados.
 
"Não há ninguém aqui com esse nome" - eu responderia a quem insiste em perguntar por nós dois.


CH

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