Enlouquecer

Parece ser um bom plano. Enlouquecer. De uma hora para a outra me comportar como a mais louca das criaturas terrestres. Sem amarras.

Primeira coisa a fazer: eu vou te ver. Vou colocar um crachá de doida varrida, contratar dois homens com cara de paisagem para, vestidos de branco, bancarem os meus enfermeiros e me levarem ao seu encontro. Não quero conversar, nem te dizer qualquer frase boba do tipo que faz com que a Meg Ryan sempre se dê bem nos finais daquelas comédias românticas que faturam milhões em cima dos sonhos femininos. Para fazer isso, eu não preciso me fingir de louca: basta que eu te ligue e fale que quero conversar. Você, então, me perguntaria, por educação, se eu estou bem. Eu diria, por educação, que sim. Você, por educação, tentaria me dizer que sente muito. E eu, por educação, facilitaria as coisas dizendo que acredito. Afinal, é para isso que os seres domesticados pela civilidade são feitos: para serem educados, mesmo nas piores e constrangedoras situações.

 Mas, a insanidade me permite ir além dos parâmetros instituídos. O mundo ainda não aprendeu como lidar com os loucos. Não quero ter bons modos. Não quero resistir. Quero brincar de ser uma menina má que não quer ir pro céu, pois eu desejo ir aonde você sabe me levar. Tomada pela loucura, eu vou fazer aquilo que realmente tenho vontade. E, nesse momento, eu tenho vontade de você. Muita. Antes que eu apareça, procure no dicionário ou no Google o sentido de ABSURDAMENTE... Antecipo o diagnóstico: é grave e, talvez, incurável. Nada em conta-gotas me serve. Quero uma dose cavalar de você, quero marcas urgentes da sua presença tatuadas na minha pele, um aviso perene de que você esteve em mim. Quero ser destruidora de zíperes, botões e golas apertadas, quero a história de nós dois sendo contada por esses destroços inofensivos e tão significativos. Quero as nossas silhuetas pichadas nas paredes da sua casa. Quero o seu faro na minha nuca, quero as suas mãos mergulhadas nos meus cabelos. Quero procurar, entre o seu jeans e a minha lingerie, o meu juízo. Quero você agora, como se a minha vida dependesse disso. E eu, livre e louca diante de você, vou dizer que ela depende. Quero a descarga elétrica que vem do seu olhar e faz com que a minha linha se transforme em picos montanhosos. Quero perder o fôlego e assistir ao seu cansaço, e confessar num depois que não quero um homem dez mil vezes melhor que você.

Não quero pesar os prós e os contras, analisar as consequências, ou medir os atos. Quero que uma rajada de vento leve tudo isso de mim, e me permita ser assim, apenas louca por você.


CH

Share this: