Saudades

Conheço essa palavra de cor e posso soletra-la até de trás pra frente, se pedirem. Conheço o cheiro que a saudade tem, que é igual ao seu, vocês têm o mesmo perfume inebriante. Conheço o peso dela, que é igual ao peso do seu corpo sobre o meu quando nos amamos. Conheço a força dela, que é igual a força do que você me causa ao sorrir e dizer sem som o quanto sente a minha falta. Quando não estou com você, é a saudade que anda de mãos dadas comigo, contando as horas que nos separam. É a saudade que me diz o quanto estou gostando de estar contigo, e é ela que contraria todas as minhas tentativas de fingir que não me importo se vai dar certo ou não a nossa história. É ela que está no calendário e nos ponteiros dos relógios aguardando a sua chegada ou mostrando que o tempo será sempre curto demais para nós. A saudade é o vão que temos para preencher nossas lacunas. É ela que primeiro arruma as malas e vai embora quando você chega, braços abertos para acolher os vales e montanhas de mim mesma, coração pronto para me deixar ficar. É a saudade que fica a espreita, esperando para voltar sem que nenhum de nós tenha pedido, visitante indesejado, companhia inevitável dos que corajosamente abrem a porta do peito para ser a morada de outro alguém. Olho no espelho ao acordar sem você, e a saudade se disfarça de aura. Tomo banho e ela se agarra a minha pele para que a água que escorre não a lave, não a leve. Ela salta nas letras das músicas que escuto para chamar você, e é ela que quer falar de você nas minhas madrugadas insones, o vazio da cama ocupado sem cerimônia por ela. É ela, essa saudade doida, que me mostra o quanto estou feliz, ainda bem...

CH.

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